Por Meyre Coelho
Foto: Divulgação
A terceira fase da campanha de orientação dos passageiros para que usem malas dentro do padrão para bagagem de mão, iniciada no dia (24) em diversos aeroportos do país, não vai resolver o problema criado pelo excesso de bagagem a bordo. Desde o início da cobrança por mala despachada nos voos domésticos, em algumas rotas específicas, o número de malas a bordo tem sido tão grande que a maior parte precisa ser removida para o porão quando chega na porta da aeronave. O trabalho extra prejudica toda a equipe de atendimento no solo e pode colocar em risco a saúde do trabalhador.
“A mala quando despachada, passa por equipamentos apropriados, como esteiras e tratores, para levá-las até a aeronave. No caso de bagagem que esteja fora do padrão e que seja identificada já próximo ao embarque, ela exigirá tratamento que envolverá pessoas e infraestrutura que nem sempre estarão disponíveis”, afirma Jorge Leal Medeiros, engenheiro aeronáutico e professor da USP. A mala entregue ao colaborador da empresa aérea na porta do avião comumente tem que ser transportada ao porão por um atendente, através de uma escada. Fazer isso várias vezes por voo não é tarefa fácil, pode prejudicar a saúde ocupacional do trabalhador e resultar em custos adicionais na cadeia produtiva. Anteriormente, essa tarefa era uma exceção, com a nova sistemática de cobrança de malas despachadas, passou a ser regra.
A campanha de orientação dos passageiros foi criada para conscientizar as pessoas do tamanho e formato da mala permitida a bordo. Desde que entrou em vigor a Resolução 400 da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), muitas pessoas preferem levar uma mala a bordo para não arcar com os custos da mala despachada, muitas vezes excessivos em comparado com o custo do bilhete. Esta semana o UOL publicou uma reportagem mostrando que nas viagens ao exterior o preço da mala despachada extra beira os 100 euros.
“Queremos conscientizar as pessoas de que só comprar uma mala nova, no padrão de bagagem de mão indicado pela IATA (International Air Transport Association), não resolve. É uma questão de capacidade das aeronaves. Promover a chamada recolha da bagagem excedente está criando um problema mais complexo. Em alguns aeroportos, como Salvador, rota turística importante, chega a 40 o número de malas recolhidas em um único voo, na porta da aeronave, e tem que descer para o nível do chão sem esteira ou qualquer outro tipo de mecanismo. O funcionário desce tudo isso na mão, usando a força física apenas e isso, além de não ser salutar para os colaboradores envolvidos, se não bem gerenciado, pode retardar o tempo em solo da aeronave”, argumenta Ricardo Aparecido Miguel, presidente da Abesata (Associação Brasileira das Empresas de Serviços Auxiliares do Transporte Aéreo). Acredita ele que com o tempo a inovação vai se ajeitar, com o equilíbrio entre o preço a ser cobrado pela mala despachada e o hábito dos passageiros.
Em uma aeronave fabricada pela Boeing, por exemplo, o 737-800, usual no Brasil, com capacidade para até 184 passageiros, os compartimentos internos podem levar no máximo 118 malas dentro do padrão. Se o voo estiver cheio e cada passageiro tiver uma mala adequada, 66 vão ser recolhidas no chamado transbordamento.
A campanha de orientação dos passageiros começou na semana passada nos aeroportos Congonhas, em São Paulo, Galeão e Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e ainda nos aeroportos de Porto Alegre e Goiânia. Até 8 de maio, passageiros de 12 aeroportos terão sido orientados a levar a bordo, sem despachar, apenas uma mala com o máximo 55 cm de altura, 35 cm de largura e 25 cm de profundidade, pesando até 10 quilos. A partir de 13 de maio, a fiscalização vai ser intensificada e o passageiro será obrigado a despachar a mala fora de padrão.
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